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Uma Tarde no Psiquiatra - Um Psiquiatra de Respeito

Por: Especializado Blog AS: abril 07, 2016
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  • Depois de mil anos sem postar (dois meses), o blog IS BACK TO ACTION, BABY!
    Enfim, continuemos com a série 'Uma tarde no psiquiatra'. Enjoy!

    Uma tarde no psiquiatra 

    - E aí maluco, o que você manda hoje?
    - Doutor, não seria antiético pro senhor, um psiquiatra de respeito, chamar seu paciente de 'maluco'?
    - Mas é exatamente disso que eu trato, de maluco. Por tabela, você é maluco!
    - ...
    - Deixe de viadagem, tenho um jogo do Flamengo pra assistir logo mais.
    - Estava me sentindo meio... literário hoje, queria falar sobre isso.
    - Fala que eu te ouvo.
    - Sei lá, estava aqui imaginando com qual estilo literário eu me identificaria melhor.
    - Espero honestamente que você só esteja se referindo aos estilos brasileiros mais recentes, porque, convenhamos, você aí, todo dependente de remédios tarja preta, não se daria muito bem com o bucolismo do Arcadismo. A não ser que você procure as matérias-primas direto no mato.
    - É, tem razão. Tem o Romantismo do início do século XIX... uma vida regada a amores, desilusões, algumas tragédias, mas com óbvios finais felizes e abruptos. Mas não sei se seria legal viver sentindo saudade da terrinha, onde tem palmeiras e onde canta o sabiá.
    - Sem contar que você não teria muita paciência pra lidar com mocinhas pentelhas que te enrolariam por meio livro só dar permissão de segurar a mão dela, e outro livro pra dar um beijinho na bochecha.
    - É, tem razão. Mas eu ia curtir que lessem meus poemas num teatro qualquer da Corte!
    - Ah, claro. Só não posso dizer que sua vida seria muito longa, você provavelmente iria morrer aos 20 e poucos e de tuberculose.
    - Verdade. Temos mais o quê?
    - Vejamos... tem o Parnasianismo.
    - O senhor tem exemplos de gente assim?
    - Ah, vários. Aqueles empresários que precisam de uma secretária, e têm que escolher entre uma inteligentíssima, que fala cinco idiomas, mas é feia de doer, ou uma que copiou e colou um modelo de currículo da internet, porque nem isso sabe fazer, mas é gostosa pra caralho.
    - Mas o que isso tem a ver?
    - Simples. A maioria dos empresários, nessa situação, tende a ser parnasianista; isto é, prefere a forma ao conteúdo.
    - Fale sério doutor, o que você faria nessa situação?
    - Eu certamente não seria realista, que seria a outra opção do empresário.
    - E como seria viver como um realista?
    - Rapaz, repare só. Você ia viver pra falar mal de tudo e todos, como o mundo está errado, como a escravidão está fudendo com o país, muito pobre pra pouco rico, mas uma hora ia encher o saco.
    - Porquê?
    - Porque ser realista não enche barriga de ninguém, sem contar que você ia pegar fama de pentelho resmungão. Todo mundo cheio de problema, de conta pra pagar, e você ainda fica enchendo o saco alheio fazendo propaganda da corrupção na Inglaterra e o calote econômico da Grécia. Faça o favor.
    - Ainda tem o Simbolismo.
    - Esqueça. Você ia falar um monte de besteira da forma mais metaforizada possível, de uma forma tal que ninguém te entenderia. Você ia terminar passando uma imagem de chato incompreendido, tipo Jim Morrisson.
    - E o Dadaísmo?
    - Bobagem. Iam pensar que você é um débil-mental que só fica falando monossílabos em sua maioria, e frases desconexas, enquanto na sua ilusão você estaria fazendo crítica social. Me poupe.
    - Que merda, doutor! Não tem nenhum estilo literário que eu poderia me identificar?
    - Tem o Modernismo, que na minha opinião é o melhor de todos. A arte de quem conhecia o povo, fazendo arte para o povo, ignorando ideais europeus e fazendo algo mais autêntico, mais brasileiro, de uma forma que os intelectuais ignoraram a princípio, porque não tinha refinamento, glamour, personagens virtuosos que eles pudessem se identificar; em vez disso, personagens populares, que agiam como tal, refletindo mais a essência do próprio brasileiro.
    - Trocando em miúdos, o que isso tudo quer dizer?
    - De uma forma reducionista, quer dizer que tinha o povão falando palavrão nas histórias. Até a próxima consulta.

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